Raspadas, gambiarra na fiação e desalinhamento podem indicar 'armadilha'. Documentação também deve ser checada com atenção.
Rivera e a Honda Sahara 97 que apresentou defeitos 17 dias após a compra (Foto: Fernando Garcia/G1)O instalador de acessórios automotivos Bruno Augusto Rivera pensou que
estava fazendo um bom negócio ao comprar a moto usada de um amigo. Há 6
meses, ele adquiriu uma Honda Sahara 1997 com 39.000 km rodados por R$ 4
mil. “Aparentemente a moto estava em boas condições e ele me disse que
precisava substituir apenas um disco de embreagem”, relata. Porém,
depois de 17 dias, a moto já começou a apresentar outros problemas.
Na Sahara de Rivera havia uma série de defeitos entre tensor e corrente
de comando, válvulas de cabeçote, placa de partida e bomba e filtro de
óleo, que precisaram ser substituídos, além de uma retífica de pistões e
anéis. “Cheguei a reclamar ao antigo dono, mas ele não quis assumir a
causa. Aí preferi arcar com todo o prejuízo, que ficou em R$ 1.500,
entre peças e mão-de-obra”, lamenta. Atualmente, a motocicleta de Bruno
está passando por uma revisão.
O ideal, antes de comprar uma moto de segunda mão - desde que esteja em
bom estado geral - é levá-la para ser avaliada por um mecânico de
confiança. “Aconselho a pesquisar bastante e não comprar por impulso”,
alerta João Itamar, gerente de pós-venda da concessionária Comstar, em
São Paulo. Algumas "armadilhas" podem ser facilmente detectadas com uma
inspeção visual no veículo. O G1 ouviu especialistas para saber quais são os pontos a checar.

A aparência vai revelar o cuidado que o atual dono teve com a moto. Por
isso, a melhor maneira de descobrir o estado geral é ver se há pontos
de ferrugem, raspões, riscos, trincas, manchas, opacidade dos
componentes, peças e acessórios soltos e desregulados, etc. Procure
também por soldas feitas recentemente e desconfie se a moto antiga
estiver com a pintura muito nova, o que pode ser sinal de reforma.
Outra maneira de descobrir possíveis indícios de tombo ou batida, é
checar o estado de guidão, manetes, retrovisores, escapamentos,
lanternas e demais acessórios, que não podem conter riscos ou trincas.
"Caso a moto estiver com qualquer um destes defeitos, aconselho a
desistir da compra, pois é um forte sinal de que ela já tenha sofrido
uma colisão. Qualquer desalinhamento de rodas ou suspensão, ainda que
leves, no futuro pode trazer consequências ao novo proprietário",
aconselha Edson Esteves, professor de engenharia mecânica do Centro
Universitário da Fundação Educacional Inaciana (FEI).
Além disso, Esteves aconselha a fazer um test drive, pois através dele é
possível notar alguns problemas com desalinhamento. "Uma moto com o
quadro ou suspensão empenada tende a inclinar para um dos lados ao virar
o guidão e, futuramente, vai comprometer outros componentes como os
pneus que vão desgastar com mais facilidade em um dos lados", explica.
Por falar neles, verifique se há desgastes irregulares, ou seja, o lado
esquerdo mais gasto que o direito, por exemplo. "O desgaste tem de ser
uniforme na parte central do pneu, tanto o dianteiro, quanto o
traseiro", diz o empresário Robson Portela, da oficina especializada em
motos nacionais e importadas LR Motos, de São Paulo . Os especialistas
alertam para o fato de que algumas lojas de motos podem tentar mascarar o
problema instalando pneus novos. A dica é desconfiar de motos muito
usadas com pneus novos.
Outro ponto fundamental é a parte elétrica. Peça ao vendedor retirar
todos os componentes que cobrem o chicote elétrico, como o assento e a
carenagem plástica. A fiação precisa estar em ordem e sem emendas ou
descascadas. "Aproveite e teste o funcionamento dos faróis, luzes
repetidoras de direção (setas), luz de freio e buzina, completa.
Para avaliar o sistema de escapamento, a melhor forma é ligar a moto,
para verificar ruídos excessivos no funcionamento, o que pode indicar
furos nos canos. "Evite comprar as unidades com escapamento esportivo,
pois as chances de serem reprovadas em uma inspeção veicular
obrigatória, se houver no seu estado ou cidade, serão grandes", revela
Portela.
O que diz o hodômetroNem sempre a boa aparência é
garantia de aquisição segura. "Aconselho as pessoas a tomarem cuidado
com motos muito rodadas. Uma moto do ano 2006 com o hodômetro marcando
50.000 km, por exemplo, já é bom fugir, pois nem sempre o antigo dono
fez as devidas revisões recomendadas pelo fabricante”, explica o gerente
de pós-venda, João Itamar.
Por falar em quilometragem, atenção com as motos 'pouco rodadas'.
Apesar do que aparece no hodômetro, elas podem revelar a idade avançada
em outros pontos, como pedaleira gasta. “Uma moto com 5.000 km, por
exemplo, não pode ter este componente desgastado. Quando abaixar para
ver as pedaleiras, aproveite para ver se não estão raladas, sinal de
tombo”, indica Itamar.
Analisador de gases avalia alterações nas emissões de gases e ruídos (Foto: Fernando Garcia/G1)Outra regra importante ao comprar a moto usada, principalmente de
lojista, é exigir o serviço de mapeamento realizado através de um
equipamento apropriado como o analisador de gases, por exemplo. Com ele,
é possível diagnosticar alterações, como emissões de gases e ruídos,
fora do padrão exigido, por exemplo, pela Controlar -órgão de inspeção
ambiental veicular, que atua em São Paulo.
A visita ao mecânico vale para verificar itens "como as trocas de óleo
do motor, freios dianteiro e traseiro, pneus etc", explica o empresário
Robson. O especialista saberá verifcar o alinhamento do chassi e o
conjunto da suspensão. Se qualquer um destes componentes estiver
minimamente desalinhado, é possível que a moto já tenha sofrido uma
colisão.
Seus direitos
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, a pessoa que adquirir
qualquer veículo - novo ou usado- em estabelecimentos comerciais e
descobrir algum tipo de problema tem um prazo de 90 dias para fazer
reclamação à loja.
“Caso o defeito não seja solucionado em 30 dias, a pessoa poderá exigir
a troca do veículo por outro da mesma espécie ou cancelar a compra, com
a devolução da quantia paga ou o abatimento proporcional do preço”,
explica Carina Minc, assessora técnica do Procon-SP. Além da garantia
estabelecida de 90 dias, a loja também poderá fornecer ao cliente uma
garantia contratual, que não é obrigatória. Neste caso, o comprador
poderá exigir um termo por escrito especificando quais as condições da
garantia oferecida.
Para o caso de compras diretas de pessoas físicas, "a garantia é de 30
dias após a compra”, diz Carina. O negócio é regido pelo Código Civil.
Se o problema não for resolvido entre as partes, a pessoa que se sentir
lesada poderá procurar a Justiça.
Documentação
Outro item que merece atenção por parte do comprador é a documentação. É
lá que constarão todas as informações da marca, modelo, ano/modelo,
chassi, placa e cor. “É de suma importância o interessado conferir o
número do chassi que é gravado no quadro da moto com a documentação.
Além disso, os números precisam estar legíveis, o que garante a sua boa
procedência”, alerta Portela. O número do chassi é impresso atrás do
garfo.
Também é recomendável verificar no Detran se a placa bate com os
números do Registro Nacional de Veículos Automotores (Renavam). Outros
cuidados são com relação a dívidas ou alienação junto a instituições
financeiras, Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA),
seguro obrigatório (DPVAT) etc.
Observe também se a moto possui o manual do proprietário e o livreto de
manutenção do veículo. Exija do antigo proprietário estes documentos,
que devem ser carimbados com as revisões obrigatórias. Caso o antigo
dono diga que perdeu ou que o manual não veio quando ele comprou a moto,
o melhor a fazer é desistir da compra, diz Portela. “O manual com todas
as revisões mostra um dono cuidadoso. Dê preferência para os que têm os
carimbos das revisões."
Fonte: g1.globo.com
Disponível no(a): http://g1.globo.com/carros
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