Nos comentários do post sobre o fim acordo comercial com o México,
surgiu uma discussão bastante comum quando se fala nos preços dos
carros brasileiros. Uns acham que eles estão caros como nunca, e há quem
acredite que nunca foi tão barato comprar um automóvel no Brasil.
Pesquisamos os preços dos carros que realmente nos interessam – os
esportivos brasileiros, desde o pioneiro Willys Interlagos – e os
atualizamos segundo os índices econômicos de correção do Banco Central para descobrir quanto eles custariam em valores de 2012. Os preços atualizados estão sempre entre parênteses.
Década de 60
O primeiro esportivo do Brasil chegou às lojas em 1962, custando 2,7
milhões de cruzeiros (117.500 reais) numa época em que as opções eram
bastante reduzidas, e o carro ainda um artigo de luxo. O Fusca custava
1,45 milhões de cruzeiros (70.600 reais) e era o carro de passeio mais
barato do país. O Interlagos dividiu o status de esportivo com o
Karmann-Ghia, que usava mesma mecânica do Fusca, e que custava quase o
mesmo que o concorrente: 2,56 milhões de cruzeiros (117.449 reais).
O Puma GT “Malzoni” foi lançado em 1967, no mesmo ano em que a Willys
encerrava a produção do Interlagos e o Karmann-Ghia recebia mais
potência com o motor 1500. O fora-de-série, ainda com mecânica DKW,
saía por 1,35 milhão de cruzeiros (110.621 reais). Como você vai reparar
a seguir, os preços destes esportivos de construção artesanal e escala
reduzida eram relativamente altos em comparação ao que viria na década
seguinte.
Década de 70
O mercado de esportivos começou a esquentar na década de setenta, com
a chegada do belo SP2 em 1972 por 30.900 cruzeiros (84.050 reais).
Mesmo sendo bonito, confiável e robusto, eu juntaria uns trocados e
pagaria 31.500 cruzeiros (88.350 reais) pelo Puma GTE, de desempenho e
beleza semelhantes.
Se o seu negócio fosse carros maiores e mais nervosos, em 1975
tínhamos o Opala SS, o Maverick GT V8, o Dodge Charger R/T e o Puma GTB.
Destes o mais barato era o Opala SS-6, que custava 64.000 cruzeiros
(99.100 reais), enquanto o Maverick cobrava 67.900 cruzeiros (105.141
reais) por seu V8 302 canadense.
Se nosso colega Juliano Barata quisesse passear de Dodge por aí
naquela época, precisaria abrir mais o bolso e desembolsar 82.350
cruzeiros (127.374 reais) por um Charger R/T, uma bela economia diante
do fora-de-série Puma GTB tabelado em 88.300 cruzeiros (136.650 reais) e
que vinha com o mesmo conjunto motriz do SS-6.
Em 1976 a VW finalmente lançou um carro com motor refrigerado a água,
muito mais moderno que seu boxer da década de 30 que equipava os
“esportivos” SP2, Karmann-Ghia TC e Fusca 1600S. Por isso os 62.300
cruzeiros (69.520 reais) parecem bastante razoáveis por um fastback
alemão naturalizado brasileiro que, se não esbanjava potência, oferecia
qualidades de condução incomparáveis para a época.
Quando a Puma lançou o GTB S2 de 380.000 cruzeiros (169.200 reais) no
fim da década, o Charger R/T havia sido transformado em uma versão
esquisita do comportado Magnum. Seus rivais Maverick GT e Opala SS
tornaram-se esportivos de adesivo com seus motores de quatro cilindros e
desempenho limitado. A coisa só voltaria aos eixos na década seguinte.
Década de 80
O mercado de esportivos voltou a esquentar novamente na metade dos
anos 80, quando a Volkswagen colocou o motor 1.8 do Santana em um Gol e o
envenenou com um comando de válvulas alemão, criando o primeiro Gol GT,
de 13.2 milhões de cruzeiros (59.480 reais). Seu principal rival era o
Escort XR3, que não tinha o mesmo desempenho, mas era mais moderno e
visualmente idêntico ao modelo europeu. Custava 15,3 milhões de
cruzeiros (69.140 reais) e tinha teto-solar de série. O XR3 conversível
chegou um ano depois, quando a inflação levou seu preço a conversível a
72 milhões de cruzeiros (120.600 reais).
Outra opção interessante, mesmo em fim de carreira, era o Passat
Pointer, encontrado por 550.000 cruzados (101.000 reais). Nessa mesma
época a VW substituía o Gol GT pelo GTS, que em tempos de loucura
econômica e inflação descontrolada era vendido por 523.200 cruzados
(97.600 reais). A Chevrolet participava discretamente do mercado de
esportivos com o belo Monza S/R 2.0, de 473.400 cruzados (88.376 reais).
No ano seguinte a Fiat entrava na briga com o nervosinho Uno 1.5 R, o
mais barato deles, custando 1,2 milhão de cruzados (63.700 reais), e em
1989 o Escort XR3 finalmente ganhava desempenho com o motor AP1800
idêntico ao do Gol GTS, e custava o equivalente a 95.300 reais.
Década de 90
O fim da reserva de mercado também foi o fim dos esportivos
carburados. O primeiro da nova geração eletrônica foi o Gol GTi, que
entrou na década de 90 embalado pelo potente AP 2000, pronto para
encarar o renovado Escort XR3 2.0 e o moderno Kadett GSi. Em um
comparativo feito em 1993, o pequeno Volks ganhou na pista e na tabela:
custava 307,3 milhões de cruzeiros (78.600 reais), enquanto Kadett e
Escort empatavam, custando 370,5 milhões (94.700 reais) e 374 milhões de
cruzeiros (95.600 reais) respectivamente.
A economia mais estável em 1994 resultou nos belos duelos entre os
aspirados multiválvulas da Chevrolet – Corsa GSi, de 21.500 reais
(76.500 em 2012) e Vectra GSi, de 39.000 reais (142.200 em 2012) – e os
turboalimentados da Fiat – Uno Turbo de 22.500 reais (80.050 em 2012) e
Tempra Turbo 33.270 reais (118.400 em 2012).
Depois foi a vez da Volkswagen atualizar seu Gol GTI, primeiro com o
velho 2.0 8v e mais tarde com um moderno 2.0 16v trazido da Alemanha. Os
modelos se diferenciavam pelas rodas, pela emblemática bolha no capô do
modelo multiválvulas e, obviamente, pelo preço: 22.800 reais (60.600 em
2012) o GTI 8v e 30.900 reais (82.200 em 2012) o GTI 16v.
No fim dos anos 90 o Gol GTI passou a ser produzido apenas com o
motor 16v e ganhou duas portas traseiras. A Ford, sempre na lanterna,
limitou-se a criar um Escort RS sobre o modelo GL duas-portas, usando
saias e spoilers, rodas exclusivas e painel de instrumentos de fundo
branco. Custava 25.000 reais (62.400 em 2012). A GM seguiu a mesma
fórmula, oferecendo um Astra fantasiado por 29.500 reais (67.200 em
2012).
Década de 2000
Já nos anos 2000 a Fiat trouxe o Brava HGT , um modelo 1.8 oferecido
por 35.114 reais (67.100 atualmente) na época do lançamento. Mas o
destaque mesmo era o lendário Marea Turbo de 182 cavalos, que brigava
pelo topo da tabela de potência nacional com o também turbinado Golf GTI
de 150 cv (potência que mais tarde aumentaria para 180 cv). Em 2003 a
Fiat cobrava 57.990 reais (89.300 em 2012), enquanto o hatch da
Volkswagen saía por 62.200 reais (96.600 em 2012). Houve ainda o Golf
GTI VR6, limitado em 99 unidades, que custava assustadores 105.600 reais
(162.100 em 2012) e curiosamente entregava quase o mesmo desempenho do
GTI turbo.
Talvez para se redimir do Escort RS, a Ford acertou a mão ao colocar o
motor 1.6 do moribundo Escort no pequenino Ka. Mesmo com modestos 96 cv
ele provou ao país que diversão ao volante nem sempre se mede pela
ficha técnica. A brincadeira custava 25.500 reais (48.950 em 2012).
Depois de quase 10 anos o Brasil voltava a ter um esportivo
fora-de-série: o Lobini H1 foi inspirado nos Lotus e usava o motor 1.8
turbo do Golf GTI. Mais leve e nascido para correr, seu desempenho era
bastante superior. Sempre bem caro, custava 170.000 reais (218.000 em
valores atuais).
Outro esportivo da Fiat foi o Stilo Abarth, que apesar do visual
discreto, tinha motorização exclusiva de 2.4 litros, cinco cilindros e
vinte válvulas, e recebeu o emblema do escorpião que caracteriza
tradicionalmente os esportivos da Fiat. Vinha equipado com tecnologias
inéditas em carros brasileiros, mas cobrava 90.450 reais (124.300 em
2012) pela conveniência.
Um dos últimos – e melhores – esportivos nacionais foi o Civic Si,
que na época de seu lançamento (lá se vão cinco anos, galera…) custava
99.000 reais (127.800 em 2012) e rivalizava com o decadente Golf GT “Mk
4,5″, que teve sua injeção eletrônica remapeada para render 193 cv com
gasolina de alta octanagem. Junto com a potência, o preço também subiu e
foi para 90.500 reais (116.900 em 2012)
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Os valores foram consultados em tabelas de veículos novos de suas
respectivas épocas e foram corrigidos pelos índices IGP-DI da FGV
(veículos anteriores a 1979) e IPC-A do IBGE (1980 em diante). Entre
vários fatores, os índices estudam a relação entre renda média familiar
mensal, o custo de vida e o gasto médio familiar mensal, portanto o
valor dos carros corrigido simula o poder de compra de cada época.
Agradecemos ao economista Januário Hostin Júnior pelas orientações na
atualização dos valores.
Crédito das fotos: Reginaldo de Campinas (Kadett GSi, Gol GTI e Escort XR3) e Renato Belotte (Maverick)
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